22.9.04

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos

11.8.04

De volta, só tenho a dizer...

Eleger o possível,
torna possível
o impossível.

7.7.04

Caminho cego,
de tanto enxergar tantos caminhos.
Encruzilhada de encruzilhadas.
Um nó górdio de estradas
este labirinto esquizofrênico
em que me meti.

Me volto.
O fio.
Não há fio.
Trilha?
Pólvora, acesa.
Nem grãos,
ingeridos e digeridos
pelo esquecimento.

Digo-me: Avante!
Que frente?
Mais do que há à frente,
antes do que há importar,
haveria de decidir para onde.
No entanto decido não escolher.
E caminho, cego, no improviso.
Estado atual:
Deixando como está, para ver como é que fica.

23.6.04

Vê se me esquece
(Itamar Assumpção e Alice Ruiz)

Já que você não aparece,
venho por meio desta
devolver teu faroeste,
o teu papel de seda,
a tua meia bege,
tome também teu book,
leve teu ultraleve
carteira de saúde,
tua receita de quibe,
de quiabo, de quibebe,
do diabo que te carregue,
te carregue, te carregue
teu truque sujo, teu hálito,
teu flerte, tua prancha de surf,
tua idéia sem verve,
que nada disso me serve
Já que você não merece,
devolva minhas preces,
meu canto, meu amor,
meu tempo, por favor,
e minha alegria que,
naquele dia,
só te emprestei por uns dias
e é tudo que me pertence

PS: Já que você foi embora por que não desaparece?

17.6.04

"O que não te mata, te fortalece"
Nietzche

"O que quase te mata, te fode todo"
Eu

16.6.04

A outra metade ficará fazendo haikais (esse beeem forçado):

Telefone email
Celular torpedo chat
Devia ficar quieto
Nada que uma lobotomia não resolva, e no meu caso acho que vai bem uma metade do cérebro para o lixo.
35'46''
Retornou com classe
Após a densa neblina
Bem-vindo à terra
Sol, tudo está clareando.

15.6.04

Ando esquecido
Há um azul celeste
Atrás do branco?
Gostei dessa, "A frase certa":

Antônio acorda em casa com uma ressaca monumental. Se esforça para abrir os olhos, e a primeira coisa que vê é um par de aspirinas e uma copo de água no criado mudo. Se senta e vê sua roupa toda limpa e bem passada.
Antônio olha ao redor do quarto e vê que tudo está em perfeita ordem e limpo. Toma as aspirinas e vê um bilhete sobre a mesa:
"Amor, o café da manhã está na cozinha. Dei uma saidinha para fazer umas compras. Te amo."

Assim que vai a cozinha, encontra o café da manhã posto e o jornal do dia esperando. Seu filho também está na mesa, tomando café. Antônio pergunta, "Filho, o que aconteceu ontém a noite?"
Seu filho lhe responde: "Bem, você chegou depois das 3 da madrugada, bêbado como um gambá e delirando. Quebrou alguns móveis, vomitou no tapete e enfiou a cara na porta, ficando com este olho roxo."

Confuso, Antônio pergunta: "E como é que tudo está tão limpo e arrumado, e o café da manhã na mesa?" Seu filho responde: "Ah, isso! Mamãe te arrastou até o quarto e quando tentou tirar tuas roupas, você gritou:
"Ei moça, me deixa em paz, sou um homem casado!"
Um ajuste ao post anterior, requerido pela minha busca de equilíbrio, é que há a opção A e 1/2: nem A nem B, que, afinal, nunca serão definitivas, até o fim.

14.6.04

Me ocorre agora que alimentar esse blog alia o escape a uma espécie de apêndice para minha memória, tão prejudicada. Bem, mas o que eu dizia mesmo? Ah, a memória. É, ele é o mais próximo de um álbum que há hoje, os posts as fotos.
E se eu voltar a postar 'Volta por cima' é sinal de que a) tudo deu errado, ou b) não deu errado, mas eu vou continuar postando-a até o fim e até usaria-a como epitáfio, se ficasse bem, mas dar a volta por cima sob a lápide seria meio assustador :-)
Saudades da melancolia
de quando da dor não sabia
que sabia a filosofia.

11.6.04

Bom mesmo é esse aqui:

Saudade dentro do peito
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.

Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.

Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.

Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.

A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.

Patativa do Assaré
Rei morto. Rei posto.

10.6.04

Não me ocorre nada,
do que quero, nada,
nada do que preciso
e nada do que posso.

Que me ocorresse algo
que abolisse eu esse marasmo.
Pegar o que quero e
ganhar o que preciso.
E resgatar o que posso.

Azul cadê?
Algodão entope
Minha vista
Rapaz! Que vida doida, não? Não canso de dizer que o roteirista que escreve minha vida pirou, e me põe em situações absurdas de vez em quando.
Outro botão apertado, quero só ver o estrago.

Mas, outra coisa que não me canso de dizer, é que a vida é divertida. É só saber.

9.6.04

Uma pista, para eu mesmo, do motivo do nome deste blog: "Volta por cima" e "Quadrilha" estão repetidos, postei-os há 1 ano e meio, e tornei a postá-los há pouco tempo. E só percebi agora (dia produtiiivo...).
Sou eu dando voltas.
Sou eu dando voltas.
Sou eu dando voltas.
Mais céu nublado
Por mais tempo fará
Meu humor inglês

E acabei de me despedir de um fujão a caminho de Recife...
Aliás, o sítio todo é bom: Releituras
Algumas do Max Nunes:
Não é que as moças de hoje sejam mais bonitas. É que as de ontem já deixaram de ser.

O casamento é como a pessoa que quer tomar um copo de leite e compra uma vaca.

Há casais que se detestam tanto que não se separam só pra um não dar esse prazer ao outro.

Personalidade é aquilo que uma pessoa tem quando não está precisando do emprego.

Várias aqui.

8.6.04

Às vezes me sinto como o cientista que, ante a São Pedro, pensa: "Poxa, eu não deveria ter pressionado aquele botão!".
Tarde demais para descobrir os porquês. Às vezes acontece. Merda acontece.

7.6.04

Soubesse antes
Os adiantes posteriores,
Conferiria depois.
Pois não adiantaria
Saber o que viria
Sem entender por que faria.

Que nem se meter
A fazer poema sem saber:
Arrisca-se a foder
com a rima sem querer.
(dessa eu escapei,
mas a métrica, então,
foi para o caixão!)
Mas se não fazer,
como aprender?

Que sorte,
minha e sua,
eu não ser poeta.
Não?

4.6.04

Top 5 de hoje

Separações
Luciana
Sandra
Lili
Joy
Silvia

Filmes
Paris, Texas
Magnólia
Alta Fidelidade
A marca da pantera
Os amantes de Maria

Livros
O amor nos tempos do cólera
Cem anos de solidão
Um estranho numa terra estranha
O eu profundo e outros eus
Os andróides sonham com ovelhas elétricas?

Músicas
Volta por cima
A Rita
Trocando em miúdos
Se acaso você chegasse
Foi um rio que passou em minha vida
Eslovena faz 103 anos e diz que segredo é não se casar

A eslovena Ana Mulej afirma que completou 103 anos graças a nunca ter se casado, mas embora o diga como piada, muitos acham que realmente ela deve em grande parte sua longevidade à falta de marido.
Assim assegura hoje o jornal Vecer de Maribor, que informa os detalhes da festa de 103 anos de Ana no Lar de Anciãos de Celje, organizada pelo próprio prefeito da cidade. Ana Mulej, que nasceu perto de Celje, no nordeste da Eslovênia, foi a sétima dos 12 filhos de uma família de camponeses e, enquanto todos seus irmãos e irmãs se casaram, ela persistiu sempre em rejeitar os vários jovens que chegaram a pedir sua mão.

Aqui
Caminhão passou
Atropelou nem parou
Eu que o guiou

2.6.04

E o Edu? :-) :-(
Façamos (Vamos Amar)
Chico Buarque

Os cidadãos no Japão fazem
Lá na China um bilhão fazem
Façamos vamos amar

Os espanhóis, os lapões fazem
Lituanos e letões fazem
Façamos vamos amar

Os alemães em Berlim fazem
E também lá em bom
Em Bombaim fazem
Os hindus acham bom
Nisseis, níqueis e sansseis fazem
Lá em São Francisco muitos gays fazem
Façamos vamos amar

Os rouxinóis, os saraus fazem
Picantes pica-paus fazem
Façamos vamos amar

Os uirapurus no Pará fazem
Tico-ticos no fubá fazem
Façamos vamos amar

Chinfrins, galinhas afim fazem
E jamais dizem não
Corujas sim fazem, sábias como elas são
Muitos perus todos nus fazem
Gaviões, pavões e urubus fazem
Façamos vamos amar

Dourados, mão, Solimões fazem
Camarões em Camarões fazem
Façamos vamos amar

Piranhas só por fazer fazem
Namorados por prazer fazem
Façamos vamos amar

Peixes elétricos bem fazem
Entre beijos e choques
Garçons também fazem
Sem falar nos adoques
Salmões no sal em geral fazem
Bacalhaus no mar em
Portugal fazem
Façamos vamos amar

Libélulas em bambus fazem
Centopéias sem tabus fazem
Façamos vamos amar

Os louva-deuses com fé fazem
Dizem que bichos de pé fazem
Façamos vamos amar

As taturanas também fazem
Um ardor em comum
Grilos meu bem fazem
E sem grilo nenhum
Com seus ferrões os zangões fazem
Pulgas em calcinhas e calções fazem
Façamos vamos amar

Tamanduás e tatus fazem
Corajosos cangurus fazem
Façamos vamos amar

(Lá vem com a mãe)
Coelho e só e tão só fazem
Macaquinhos no cipó fazem
Façamos vamos amar

Gatinhas com seus gatões fazem
Tantos gritos de ais
Os garanhões fazem
Estes fazem demais
Leões ao léu, são do céu, fazem
Ursos lambuzando-se no mel fazem
Façamos vamos amar

1.6.04

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...

Álvaro de Campos

31.5.04

Há um agulha no palheiro, a sarna coça, o cavalo tem chifre como o ovo tem pêlo, uma mosca branca afogou-se na sopa, nadei duas vezes no mesmo rio, nenhuma paixão me fascina.
Prognósticos
Chovem como chuva
Nada o sol

28.5.04

Medo protege, medo pouco é imprudência, medo muito imobiliza.
Nunca pensei que iria postar um texto do Arnaldo Jabor:

Olhe para um lugar onde tenha muita gente: uma praia num domingo de 40º, uma estação de metrô, a rua principal do centro da cidade.
Metade deste povaréu sofre de Dor de Cotovelo. Alguns trazem dores recentes, outros trazem uma dor de estimação, mas o certo é que grande parte desses rostos anônimos tem um Amor Mal resolvido, uma paixão que não se evaporou completamente, mesmo que já estejam em outra relação.

Por que isso acontece? Tenho uma teoria, ainda que eu seja tudo, menos teórico no assunto. Acho que as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo. Os amores que ficam nos assombrando não foram amores consumidos até o fim.

Dor de Cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado. Platonismo funciona em novela, mas na vida real demanda muita energia sem falar do tempo que ninguém tem para esperar.
E tem que ser vivido!!! em sua totalidade....

É preciso passar por todas etapas: atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim.

Como já foi dito, este trajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anos, mas é importante que transcorra de ponta a ponta, senão sobra lugar para fantasias, idealizações, enfim, tudo aquilo que nos empaca a vida e nos impede de estarmos abertos para novos amores.
Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote, ficamos imaginando as múltiplas possibilidades de continuidade,tudo o que a gente poderia ter dito e não disse, feito e não fez.

Gaste seu amor. Usufrua-o até o fim. Enfrente os bons e maus momentos, passe por tudo que tiver que passar, não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem, desde o adocicado do início até o amargo do fim, mas não saia da história na metade.
Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo, fechando o próprio ciclo.
Isso é que libera a gente para Ser Feliz Novamente.

26.5.04

João amava Tereza que amava Raimundo
que amava Maria que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Tereza para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Quadrilha (Carlos Drummond de Andrade)
"Há duas formas para viver sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre."
(Albert Einstein, 1879-1955)
Falha bola
De basquete para
Jogar sinuca
Certeza burra
Coerência errada
ou vice-versa

25.5.04

Breve cansaço
Vide vida vivida
Breve descanso

21.5.04

Quero ignorado, e calmo
Por ignorado, e próprio
Por calmo, encher meus dias
De não querer mais deles.

Aos que a riqueza toca
O ouro irrita a pele.
Aos que a fama bafeja
Embacia-se a vida.

Aos que a felicidade
É sol, virá a noite.
Mas ao que nada 'spera
Tudo que vem é grato.

Ricardo Reis

20.5.04

Às vezes desejo, às vezes comemoração.

Volta por Cima.
Paulo Vanzolini

Chorei, não procurei esconder,
Todos viram, fingiram,
Pena de mim não precisava,
Ali onde eu chorei qualquer um chorava,
Dar a volta por cima que eu dei,
Quero ver quem dava. - BIS.

Um homem de moral não fica no chão,
Nem quer que a mulher lhe venha dar a mão,
Reconhece a queda e não desanima,
Levanta, sacode a poeira
E dá a volta por cima. - BIS.
Ressuscitando novamente, ainda no mesmo espírito que este blog acabou incorporando: sem confissões ou relatos de dia-a-dia, apenas eventuais desabafos com minhas ou outras palavras.
Fênix.